terça-feira, 5 de maio de 2009

Uma arquitectura sustentável para uma reabilitação social

O ciclo «Um alerta global para o desenvolvimento sustentável» que decorreu neste mês na Culturgest, em Lisboa, encerrou esta terça-feira com a conferência dedicada aos espaços urbanos. O arquitecto chinês Li Hu e o economista português Carlos Martins expuseram as visões próprias de quem projecta edifícios e de quem gere o desenvolvimento do território urbano, mas não sem deixarem de convergir no plano comum da «Arquitectura sustentável».
Assim como o ponto de partida foi o mesmo. A saturação urbana é uma realidade que não é possível escamotear; pelo contrário, é a realidade de um século XXI que já é denominado como o século das cidades, quando pela primeira vez na história da humanidade (desde 2007) a população urbana é mais numerosa do que a população rural. E a sustentabilidade de um planeta cada vez mais urbano e cada vez menos sustentável também não pode ser escamoteada.
É aliás um tema já «emergente», nas palavras de Carlos Martins, mas que também está ele na casa de partida, pois, nesta altura, vivemos na «necessidade de mudança de paradigma». A actual crise económica de abrangência global é também ela indissociável de qualquer forma em que se analise o presente ou perspective o futuro e este economista que já foi autarca destaca «o papel que as cidades também vão ter» numa consequência que esta crise tem de trazer: a «aproximação entre economia financeira e economia real».
Clusters de criatividade
Carlos Martins vai ainda mais longe, é mais radical. «As políticas actuais não resolvem os problemas do presente e muito menos do futuro. É preciso desligar e voltar a ligar, começar tudo de novo», defende o gestor dos planos do Centro Histórico do Porto Património Mundial e de Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012. Os espaços urbanos estão para o economista ávidos dos «Clusters de criatividade», esses locais onde tanto umas pessoas habitam, como outras trabalham, como outras produzem o que outras vão lá consumir, numa miscigenação cultural urbana com base na reabilitação dos espaços.
«As cidades devem ser aceleradoras de criatividade», diz Carlos Martins frisando que as «pessoas», a «economia» e «os lugares» são três pontos igualmente imperativos da mesma agenda. A desertificação do centro do Porto em contraste com o aumento demográfico dos arredores da cidade é um exemplo do que deve ser contrariado pela «interdisciplinaridade dos espaços» ligando «o património à criatividade» para uma «regeneração social, económica e urbana».
«Bolsas sociais»
Esta reabilitação teve o paralelo chinês na arquitectura sustentável que Li Hu apresentou. A partir de uma China que está saturada climaticamente e a construir 2 mil milhões de m2 por ano, é no quadro de uma sustentabilidade «económica», «social» e «ambiental» que o arquitecto projecta não só edifícios como espaços destinados a recuperar «a vida de rua», para si «o único espaço público».
Foram quatro os projectos apresentados detalhadamente em Lisboa por Li Hu: o «Linked Hybrid», em Pequim; o «Vanke Center» e as torres «4+1=2», em Shenzhen; e a «Raffles City», em Chengdu.
Entre o aquecimento geotérmico, ou os edifícios elevados do solo formando microclimas, painéis solares giratórios que seguem o sol quando a Terra roda, ou os jardins nos topos das torres, estas construções de ponta têm a participação social bem definida - numa vertente convergente com a do economista português, mas que Hu fez questão de frisar que, na China, começa a construção de raiz. Mas o modelo está lá, com a formação das «bolsas sociais» idealizadas pelo Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus, como referência.

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