sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Ter uma casa “verde” ajuda a poupar 80% na conta da energia

Casas sustentáveis, casas bioclimáticas, casas eficientes, casas verdes. Expressões que dizem o mesmo: uma habitação bem construída que utiliza materiais amigos do ambiente e da saúde, e que permite poupar 80% em energia. E nem por isso custa mais.Ana BaptistaDuas da tarde de um dia de muito calor. Lá fora 35 graus centígrados afastam as pessoas da rua. Dentro de casa está fresco.Pasme-se: não há ar condicionado nem uma ventoinha a funcionar. E também não estamos no Alentejo, numa casa de pedra antiga que isola o calor. Estamos em Sintra, junto à praia e rodeados pela serra. O clima é tudo menos estável: de dia pode estar muito calor e à noite muito frio. A casa parece normal, como qualquer outra, mas permite o conforto de nos afastar do calor abrasador do Verão sem ser preciso gastar dinheiro. Como? “Basta ter um bom isolamento térmico no exterior, ter janelas de uma dimensão adequada à orientação da casa, sombreamentos exteriores e - mais importante - estar orientada a Sul”, diz Lívia Tirone, arquitecta especializada em projectos sustentáveis e energeticamente eficientes. Em Portugal, a orientação de uma casa deve sempre ser a Sul: “Durante o Inverno o sol está baixo e entra na casa e aquece o interior, e no Verão está mais alto e não sobreaquece a casa.” Há mais de 20 anos que Lívia Tirone está envolvida na construção sustentável. Na prática, não é mais do que construir bem.“Uma casa em Portugal que precise de ar condicionado é porque foi mal construída”, diz. São já mais de 200 casas projectadas por esta arquitecta, além de edifícios de escritórios “amigos do ambiente”. E a verdade é que está tudo no desenho. Construir uma casa sustentável não precisa de materiais caros e impossíveis de encontrar; não precisa de mais tempo para se construir; e também não é mais cara ou sofisticada como ainda hoje se pensa. “Usamos os mesmo ingredientes, apenas os misturamos de uma outra forma”, explica Lívia Tirone. Casas que poupam energiaUma casa sustentável distingue-se mais pelo conforto do que pelo exterior. “A minha é normalíssima”, comenta António Matias Fernandes, 63 anos. Há 13 anos que mora numa casa sustentável, que lhe permite poupar 80% da energia consumida. “Durante o Inverno todo uso aquecimento duas ou três vezes”, conta. É o mais importante - poupança de energia. Numa altura em que se fala ininterruptamente de renováveis, de alternativas ao petróleo e ainda de poupança de energia a favor do ambiente e para evitar o aquecimento global, ter uma casa sustentável é um primeiro passo. Uma casa destas, no entanto, tem mais do que um bom isolamento ou uma boa orientação. Estes são apenas os princípios básicos. Em Óbidos, a Lena Construções está a desenvolver o projecto Casa dos Arcos, uma urbanização sustentável de 45 moradias de tipologias T3 e T4. Todas as casas vão ter aquecimento solar das águas sanitárias através de painéis colectores; pisos de laje ventilados para deixar sair o calor; isolamentos térmico e acústico; torneiras misturadoras com redutor de caudal, fazendo mistura de ar na água e reduzindo assim o consumo efectivo e, ainda, janelas com vidros duplos com caixilharia com isolamento térmico para não entrar calor. Além disso, os electrodomésticos serão economizadores de energia, usar-se-ão lâmpadas fluorescentes compactas e tintas ecológicas sem materiais nocivos ou tóxicos para melhorar a qualidade do ar interior. A grande novidade, contudo, está em algumas áreas das casas: têm coberturas ajardinadas, uma prática comum em alguns países da Europa, como a Noruega ou Espanha. E é usada em ambientes urbanos, ao contrário do que se podia esperar. A erva consome calor, tornando assim a casa mais fresca em dias quentes.“Escolhi viver numa casa sustentável de forma inconsciente. Quando a vi pela primeira vez, o que mais me chamou a atenção foi a vista, mas a experiência não podia estar a ser melhor”, conta António Matias Fernandes, proprietário de uma casa em Nafarros, perto de Sintra e de Colares. Na sala há uma janela grande, com três metros de comprimento e cinco de altura. “Tenho uma magnífica exposição ao sol e não preciso de ar condicionado”, repara. António Fernandes está rendido às maravilhas da sua casa sustentável. De tal forma, que, recentemente,quis reconstruir uma casa que já tinha, usando algumas das técnicas da construção bioclimática. Mas não foi assim tão fácil. “Não consegui aplicar tudo, porque não encontrei pessoas suficientes com sensibilidade para isso”, adianta. É um dos grandes problemas deste tipo de construção: o desconhecimento ainda é grande. Tanto do público como dos construtores, engenheiros e arquitectos. “Somos um país muito tradicionalista e estas medidas novas demoram a ser apreendidas e mais ainda a ser aceites”, comenta um agente do sector. O factor preço Um dos principais factores de desconfiança está relacionado com o preço. A maioria das pessoas ainda acredita que construir uma casa sustentável é mais caro. Não é bem assim. “Uma casa bioclimática custa mais 5% do que uma casa normal, mas o preço de venda apenas cresce uns 2%. O importante é que consigo reduzir os custos energéticos em 80%”, clarifica Lívia Tirone. Além disso, os custos adicionais são rapidamente recuperáveis. “Por norma, demora cerca de seis anos, mas se aplicarmos painéis fotovoltaicos o retorno já chega uns 12 anos depois”, explica Manuel Pinheiro, engenheiro do Instituto Superior Técnico.Produzir energia em casa é cada vez mais uma ambição, apesar de ainda ser dispendioso. Instalar painéis fotovoltaicos custa 20 mil euros e se for uma micro-eólica, o investimento ronda os sete mil. Manuel Pinheiro acredita que estes equipamentos são caros porque o processo ainda está no início. Este especialista está convencido que dentro de uns anos tudo estará mais generalizado e construir uma casa sustentável será visto como um processo frequente e comum. Para isso, vai ainda ser necessário aumentar a oferta de materiais mais amigos do ambiente. “Apesar de já haver uma gama significativa de materiais, ainda há muita falta de informação”, comenta Manuel Pinheiro, acrescentando: “Só não há oferta porque a procura ainda não justifica.” Actualmente usa-se muito na construção sustentável a pedra e o mármore, os vidros duplos, as caixilharias com isolamento e os produtos reutilizáveis. “Em vez de colarmos um rodapé à parede, podemos fixá-lo mecanicamente para que não se estrague e possa ser usado novamente”, esclarece Lívia Tirone. Usam-se ainda os isolamentos à base de ingredientes naturais, como os de celulose, comercializados, por exemplo, pela Bio Habitat, empresa portuguesa de materiais de construção naturais. Este isolamento de celulose é constituído por ingredientes semelhantes ao algodão e à lã. Além disso, falamos de materiais locais, mais baratos e fáceis

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